quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Vasco Silva, a Arma Secreta


Vasco está para os Joguinhos como o Almirante Gago Coutinho e o Comandante Sacadura Cabral estão para a aviação. Da mesma maneira que estes dois oficiais da Marinha se disponibilizaram, quando foi preciso, a ir ao Brasil de avião, Vasco também está sempre disponível a participar nas expedições pela técnica, pela táctica e pelo engenho, que se realizam às Sextas-feiras à noite em Nogueira. Se, por uma razão ou outra, nunca foi titular indiscutível, não deixa de ser um dos artistas da bola que mais pisou o sintético de Nogueira.
Como homem, Vasco tem uma grande sensibilidade e grande empatia com os outros e, frequentemente, detecta, física ou intuitivamente, coisas que mais tarde se prova estarem correctas. É tolerante, não julgador e não guarda rancores, aceitando as pessoas incondicionalmente não obstante suas falhas, erros, ou aparência externa. Tem compaixão profunda com o sofrimento de toda a criatura e, amiúde, sente a dor dos outros como se fosse sua. “Mãos-largas”, é capaz de dar desinteressadamente, vivendo uma vida de serviço devotado e compassivo em prol dos outros, como um curandeiro, um médico, um trabalhador social ou um pastor.
A sua caracterização como homem é espelhada na sua caracterização como futebolista: não sendo um portento enquanto “matador”, o seu treino com instrumentos de navegação permite-lhe saber sempre as suas coordenadas no campo, o que, aliado à sua frieza e inteligência, lhe permite reiteradamente impedir que os adversários obtenham os seus intentos. Na manobra ofensiva, Vasco encara cada jogada de frente e lança-se em experiências novas com vivacidade e entusiasmo. É directo, franco e assertivo quando está cara-a-cara com o guarda-redes.
Vasco é o jogador que qualquer treinador gosta de ter disponível: sempre disposto a deixar a pele em campo.

Jorginho, o Justiceiro


A Justiça (assim mesmo com “J” maiúsculo) é a obsessão de Jorginho, pelo que a sua magia acontece quando os pratos da balança se posicionam à mesma distância do eixo horizontal.
O seu espírito buscador da paz e da ordem, impele-o a praticar um futebol generoso, ao ponto de, com elevada frequência, repartir a posse de bola com os seus comparsas, perdendo chances de arrebimbar o malho forte e feio, com a mesma intencionalidade com que um dia contribuirá para enviar gandulos para trás das grades da delegacia.
Não obstante, em Jorginho não deixa de residir uma essência felina, que o mesmo aplica com mestria, nomeadamente conjugando uma intensa discrição com o ressurgimento no momento fatal, essencialmente marcando golos ao segundo poste, após os quais rejubila como se de o envio de um meliante para o cárcere se tratasse.
Na sua eterna demanda pelo equilíbrio, compensa o tímido sentido de iniciativa imprimindo fluidez no ataque de outra forma: recorrendo a uma intensa lateralização por via do passe curto, raramente segurando a redondinha por mais tempo do que o diabo leva a esfregar um olho, mas cedendo-a com mestria.
A todos os níveis, deita água na fervura e está apaixonado por isso.
Estóico no ser e no agir, a cada passo que dá, Jorginho filosofa, dado que toda e cada acção sua é cruamente e sem artifícios decalcada da sua rígida filosofia de vida! Concretizando, Jorginho continuamente se questiona sobre a realidade com que se depara em campo e, à dúvida, contrapõe com a busca da certeza sugerida pelo ensinamento histórico, filosofando de forma historicamente transversal, pois da antiguidade bebeu o sumo da vaidade espartana e a lealdade do direito romano, revelando-os na sua postura comedida mas fulcral e no “joga-justo” que brota de si mesmo nos momentos mais improváveis.

Pedro Alpoim, o Revolucionário


Pedro está para os Joguinhos como a Maizena está para os molhos pois, por via da ambição que transpira, automaticamente se revela indubitavelmente inexcedível nos papéis de “aglutinar” a equipa em torno do objectivo “3 pontos” e de “engrossar” a sua capacidade de sacrifício, sob o lema “Vituéria o muerte!”.
Ecoa a voz de Pedro: corações ao alto... É chegado o momento da revolução!
Pedro exala o seu joie de vivre através dum extenso rol de actividades técnico-artísticas, as quais encontram paralelismos na expressão do perfume do seu futebol, ao nível das suas especialidades:
- no dom da culinária, o apurado aroma da sua divinal “Perdiz à Moda da Casa”, revela-se em campo pelos apurados e temidos “bananos” com que atinge as redes adversárias;
- na arte da música, o serpentear dos seus dedos na viola braguesa revela-se nas quatro linhas pelo serpentear de fintas curtas com que se lança pelos seus intrépidos slaloms que desfeiteiam até o adversário obcecado pela eficácia defensiva;
- o seu letal sentido de oportunidade, que o torna um goleador e mestre do tackling e o seu constante “sangue na guelra”, são a expressão futebolística da determinação com que põe os pontos nos “is” e nos “jotas”, tal como sucede nos enredos literários que cria nas folhas da sua mente.
Polémico no discurso, porém de trato fácil, não tem papas na língua e o seu fervor humano compele-o a genuinamente desvendar-se como um poeta do futebol, prezando sonetos curtos e futebol directo e deleitando-se com rimas emparelhadas e ataque contínuo tabelando com o colega, numa sucessão “ora a bola é minha, ora é tua, ora é minha outra vez”.
Revolucionário de verdadeira autenticidade, “Che Alpoim” abala todos os paradigmas em voga, sendo não só um temível avançado como também um guarda-redes de estonteante eficácia e, fazendo jus aos seus ideais, impetuoso e intrépido não nega caminhos espinhosos.